Por: Eliana Rezende
Interessante a pergunta, mas ela não é minha. O pessoal do Programa Pé na Rua, da TV
Cultura, levou esta questão para as ruas para ver o que e como pensam as pessoas.
Veja só as respostas que tiveram:
Apesar da pergunta não ser originária minha vejo que é uma pergunta que está diretamente ligada aos chamados nato-digitais.
Apesar da pergunta não ser originária minha vejo que é uma pergunta que está diretamente ligada aos chamados nato-digitais.
Interessante como uma ferramenta em poucos
anos pode ter alcançado um estado de unanimidade em especial pelos mais jovens.
No programa é nítido como o mundo para além da Googlelandia quase não existe!
Percebe-se nitidamente o espaço de inconsciente coletivo que esta ferramenta alcançou.
Vejo que um bom caminho seja desenvolvermos um sentido de crítica ao dito e ao escrito, que pelo visto vem faltando para muitos. A dúvida e o espírito investigativo também precisam de uma maior lapidação: do contrário formaremos apenas uma geração de respostas prontas!
O caminho essencial é que consigamos que os mais jovens descubram que tudo o que temos são ferramentas. A construção do conhecimento passa por outra via e que tem absolutamente a ver com essa inquietação investigativa, espírito crítico e boas perguntas. Sem elas o que temos é só a "coleta" de informações. Em vez de produtores transformamo-nos em coletores e reprodutores. O mundo precisa de mais do que isso, não é mesmo?
Há duas coisas aqui: uma é a possibilidade de buscador que o Google oferece e que como tal representa uma resposta algorítmica àquilo que estamos buscando. Apenas e tão somente isso: é uma máquina que responde como uma.
De outro lado, há nós, os que não somos capazes de comportamentos algorítmicos, mas que temos a nosso favor a possibilidade
de repostas que se baseiam em pensamentos críticos, e portanto individuais.
Se tomarmos a concepção de Lévy-Strauss e Castells, para citar alguns, que a inteligência humana poderia se expandir a partir do ciberespaço (que seria uma inteligência coletiva), o Google vem na contramão propondo buscas customizadas a partir do indivíduo. Com isso funcionaria como um limitador para a expansão e o desenvolvimento desta inteligência que ocorreria de forma natural sem sua interferência.
Para além disso, temos que pensar que toda a rede (inclui-se aí Google, Bing, Facebook, entre outros) há um sempre presente interesse mercadológico por trás. E de novo, os resultados obtidos customizados por indivíduos estarão cada vez mais voltados, não provavelmente para o que você quer ou busca, mas para o que tais buscadores e plataformas querem lhe mostrar.
E caímos na via oposta à dos objetivos pelos quais a internet começou a se expandir: a liberdade.
Dando-nos a errada sensação de que somos nós quem está fazendo as buscas e encontrando os resultados. Em verdade o Google nos direciona ao que Ele quer. E faz isto de tal forma, que exclui todas as outras possibilidades, nem nos disponibilizando as demais. Esta falsa sensação de autonomia com liberdade, mascara o quanto nos tornamos reféns fáceis de um mecanismo.
Um dos precursores da realidade virtual e crítico da web 2.0, Jaron Lanier defende um caminho diferente para se utilizar a rede. Ele é defensor de uma internet aberta, mas não completamente gratuita. A questão levantada por Lanier é estrutural. O problema é que a rede, gradualmente, direciona e agrupa os usuários em blocos. As informações ‘sugeridas para o seu perfil’ escondem uma variedade enorme de outras possibilidades e, ao categorizar por ‘gostos’, tornam o usuário um produto bem definido para publicitários, por exemplo. Ou seja, no modelo atual, quem lucra mais são os sites de busca e as redes sociais, e quem sai perdendo são os criadores, que dependem dos direitos autorais para viver.
Todo nosso rastro tecnológico por sites, likes, links e afins, indicam exatamente quem somos e nosso perfil consumidor, com quem nos relacionamos, nossas preferências e crenças. Tudo engendrado de modo a nos transformar em produto de nós mesmos.
O maior risco de tudo isso é o Google pouco a pouco transformar-se ao olhos de seus usuários, na única e melhor lente para olhar e entender o mundo. Dá-se à ferramenta o sentido extremo de onipresença e onisciência.
Além de tudo, institui-se uma preguiça pela pesquisa. Comodamente, as pessoas preferem seguir as listas indicadas pelo Google e muitas sem fazer uma análise criteriosa, simplesmente "consomem" como sendo o certo, o melhor, o único.
SivaVaidhyanathan realiza uma análise crítica a respeito dessa poderosa organização,
Portanto, vejo a "brincadeira" do Programa
Pé na Rua em pôr em xeque esse status de "verdade" que o Google acaba tendo muito instigador. Faz-nos ver
que as pessoas tornam-se consumidoras do que muitas vezes é postado e veiculado sem
uma preocupação crítica com sua autenticidade. Toma-se os resultados obtidos como sendo uma "verdade absoluta", inquestionável, a melhor e única resposta.
Se tomarmos a concepção de Lévy-Strauss e Castells, para citar alguns, que a inteligência humana poderia se expandir a partir do ciberespaço (que seria uma inteligência coletiva), o Google vem na contramão propondo buscas customizadas a partir do indivíduo. Com isso funcionaria como um limitador para a expansão e o desenvolvimento desta inteligência que ocorreria de forma natural sem sua interferência.
Para além disso, temos que pensar que toda a rede (inclui-se aí Google, Bing, Facebook, entre outros) há um sempre presente interesse mercadológico por trás. E de novo, os resultados obtidos customizados por indivíduos estarão cada vez mais voltados, não provavelmente para o que você quer ou busca, mas para o que tais buscadores e plataformas querem lhe mostrar.
E caímos na via oposta à dos objetivos pelos quais a internet começou a se expandir: a liberdade.
Dando-nos a errada sensação de que somos nós quem está fazendo as buscas e encontrando os resultados. Em verdade o Google nos direciona ao que Ele quer. E faz isto de tal forma, que exclui todas as outras possibilidades, nem nos disponibilizando as demais. Esta falsa sensação de autonomia com liberdade, mascara o quanto nos tornamos reféns fáceis de um mecanismo.
Um dos precursores da realidade virtual e crítico da web 2.0, Jaron Lanier defende um caminho diferente para se utilizar a rede. Ele é defensor de uma internet aberta, mas não completamente gratuita. A questão levantada por Lanier é estrutural. O problema é que a rede, gradualmente, direciona e agrupa os usuários em blocos. As informações ‘sugeridas para o seu perfil’ escondem uma variedade enorme de outras possibilidades e, ao categorizar por ‘gostos’, tornam o usuário um produto bem definido para publicitários, por exemplo. Ou seja, no modelo atual, quem lucra mais são os sites de busca e as redes sociais, e quem sai perdendo são os criadores, que dependem dos direitos autorais para viver.
Todo nosso rastro tecnológico por sites, likes, links e afins, indicam exatamente quem somos e nosso perfil consumidor, com quem nos relacionamos, nossas preferências e crenças. Tudo engendrado de modo a nos transformar em produto de nós mesmos.
O maior risco de tudo isso é o Google pouco a pouco transformar-se ao olhos de seus usuários, na única e melhor lente para olhar e entender o mundo. Dá-se à ferramenta o sentido extremo de onipresença e onisciência.
Além de tudo, institui-se uma preguiça pela pesquisa. Comodamente, as pessoas preferem seguir as listas indicadas pelo Google e muitas sem fazer uma análise criteriosa, simplesmente "consomem" como sendo o certo, o melhor, o único.
SivaVaidhyanathan realiza uma análise crítica a respeito dessa poderosa organização,
“cuja missão consiste em organizar toda a informação do mundo e torná-la universalmente acessível e útil.” (VAIDHYANATHAN, 2011, p. 16).
[...] o Google nos avalia e constrói seus sistemas e serviços de modo a satisfazer nossos desejos e fraquezas. O Google funciona para nós porque ele parece ler nossa mente – e, em certo sentido, é o que faz. Ele adivinha o que uma pessoa está procurando com base
nas buscas feitas por ela e por outros iguais a ela. (VAIDHYANATHAN, 2011, p. 66).
Vaidhyanathan esclarece que o algoritmo PageRank do motor de busca do Google fornece
listas de opções bem apropriadas mesmo que o termo digitado seja vago, enquanto o
usuário nem tenha mentalizado exatamente o que deseja:
[...] Além disso, o Google nos condiciona a aceitar essa lista e acreditar que, de fato, ela nos oferece o que queremos. A capacidade de sugestão do Google Web Search, explicitada pela lista de opções que aparece quando começamos a digitar, é a mágica que nos aprisiona. De muitas maneiras, o Google nos avalia e compreende melhor do que nós próprios o faríamos. (VAIDHYANATHAN, 2011, p. 66).
Talvez a ideia seja de fato encontrar o meio
do caminho. Sempre cabe para, se questionar e buscar outros caminhos e possibilidades. Nunca ser um consumidor passivo do que buscadores oferecem.
Ainda ficam para outro post noções fundamentais sobre como o Google pode afetar nossa cidadania, segurança, privacidade...conversa para outra vez!
***
Referências:
[Link 1:]
[Link 2:]
[Link 3:]
_________
Posts relacionados:
Inteligência em Inteligência Artificial?
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Chegamos ao fim da leitura?
Geração Touchscreen
Facebook: robotização e sedentarismo em rede
Em Tempos de Tintas Digitais: Escritos e Leitores - Parte I
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