1 de mar. de 2016

Viagem Pitoresca ao Brasil, de Debret

Por: Eliana Rezende
          &
Lionel Bethancourt

História pode também ser escrita por imagens, e livros nem sempre precisam de palavras dispostas umas após outras para compor um enredo. Este é o caso do livro "Viagem Pitoresca ao Brasil”, uma obra de Jean Baptiste Debret.

Imagens que povoam nosso imaginário, que são nossas velhas conhecidas desde os tempos de escola e que olhadas séculos depois nos mostram tanto! Caso não conheça, ou não se lembre, clique aqui para (re)ver/lembrar/conhecer.

Vendedores de palmito e de samburás, 1834-1839 - de Jean-Baptiste Debret (França, 1768-1848)
Gravura baseada em aquarela, original c. 1825

A beleza e precisão dos traços de Debret são fantásticos e nos fazem pensar sobre o quanto hoje em dia as mãos e as possibilidades que estas tem de traçar e desenhar se afastam disso e aproximam-se de teclados, Ipads e mouses....
Será que estaríamos desaprendendo?

Bem, não sejamos tão radicais. Desaprendendo talvez não.
Há, contudo, uma certa carga de imediatismo adicionada à fórmula de criação. Uma grande carga de imediatismo. Os materiais continuam acessíveis, e ainda mais, porém a velocidade de produção de resultados é que aumentou. E, definitivamente, tem algumas técnicas que requerem tempo.
Tempo para aprender e tempo para produzir... arte.

Na época em que Debret e seus colegas fizeram a viagem, o tempo transcorrido entre rascunho e obra acabada, teriam causado sua demissão de qualquer editora moderna. Hoje somos balizados por parâmetros: tempo, produção, custo. Produzir mais, consumindo menos. Tudo para ontem.
Ainda há bolsões heroicos de resistência, basta procurar com atenção. Veja, por exemplo o DeviantArts, onde se estimula a criação pela exposição de iguais. Algo parecido com "The Studio" (de Manhattan em 1975) de Jones, Kaluta, Windsor-Smith e Wrightson, onde o ambiente compartilhado e a exposição mútua estimulava a criação um do outro.
Guardadas as devidas proporções, claro.
Sim, temos que largar os teclados, os Cintiqs, e pegar um pouco mais no lápis e carvões.
Treinamento faz...


A criatividade é um elemento de fato muito interessante. A produção de Debret em seu tempo conseguiu trazer uma riqueza de detalhes que provavelmente nos dias de hoje passariam desapercebidos.

Lápis também é tecnologia e, é o olho que vê e a mente que cria, que tem esse poder de nos remeter a um tempo e espaço que hoje já não existem mais. O artista nesse caso preocupava-se com a fidedignidade da imagem, mas com certeza introduzia elementos que tornavam sua imagem o "mais real" e factível possível.
Hoje acho que acabamos delegando muito às tecnologias. Agudeza, profundidade e minúcia não parecem constar em muitos dicionários de ditos profissionais.
De fato, precisamos aprender com esses traços.

Se tomarmos o tripé citado acima: tempo, produção e custo, toca no ponto fulcral de toda essa imediaticidade que aflige e poda qualquer criativo.
Que criatividade resiste a tal tripé?
De outro lado tanta imediaticidade garantirá quanto tempo de permanência?
Temos traços feitos há 300, 500, 1.000, 2.000 anos, mas será que teremos essa permanecia para as produções atuais?
E aí, caímos na discussão de outro post sobre a preservação digital de toda a nossa produção humana, incluindo as artes.
Eis a importância de termos oásis e possibilidades de resistência criativa.

Um destes exemplos pode igualmente ser visto neste vídeo, da Café Communications, sobre tempo e criatividade.
Acho (achismo solto) que já deve ser farto conhecido de todos, pois roda faz algum tempo pela web. Mas para quem não conhece é uma excelente oportunidade e para quem conhece é uma ótima oportunidade de rever.


Após ver aquele, deveríamos sentar e assistir esta palestra (de 11m.) do David Kelley na TED sobre como criar confiança criativa (clique aqui para ver). E teremos um contexto todo diferente sobre criatividade, tempo e... auto-eficiência.