30 de set. de 2016

A vida wi-fi de seres desconectados


Estranho pensar como uma civilização inteira tão conectada, ligada, plugada em cabos, fios, redes, plataformas e todo tipo de brinquedos tecnológicos pode ao mesmo tempo, e de forma quase que automática, estar completamente desconectada da vida à sua volta. 

Um estado de distopia parece se avolumar e alcançar todos: não importa idade, gênero, posição social e até grau de instrução. A vida, em especial aquela vivida em grandes centros urbanos parece reduzir as pessoas a autômatos que respondem e movem-se num aglomerado de poluição e engrenagens mecânicas, metálicas, por entre concretos, por cima de asfaltos entre espelhos e vidraças. Dentro de veículos individuais ou públicos, indivíduos perfilam-se e seguem suas rotinas tendo nos ouvidos um fone, nas mãos um teclado, e alheios a tudo e todos seguem suas rotinas de congestionamentos físicos e mentais, feitos por veículos, vidas e até ausências.

O único congestionamento não permitido é o de pensamentos. Estes são relegados ao mais profundo esquecimento, suprimido por ruídos artificiais produzidos por sons de gadgets.

A incapacidade de convívio com o silêncio próprio parece ser a regra. E as mentes ocupam-se num não pensar anestesiante e assustador, auxiliadas voluntária ou involuntariamente por outros seres nas mesmas condições. Compõem um exército de zumbis que perambulam por ruas, transportes, sentam-se em bares, restaurantes, praças, vias e espaços públicos.

Lembro de Saramago e seu "Ensaio sobre a Cegueira". É fato, para não enxergar não é preciso que falte o sentido da visão. Basta que falte o sentido de pertencimento, de crítica, de agudeza de espírito. E neste ponto, a cegueira poderá acompanhar-nos uma existência inteira. Acostumados que estamos a não ver, nem notamos aquilo que nos passa ao largo.

Triste sina a desconexão de si e do mundo!

Neste mundo de paradoxos, a única consciência são as ausências de redes wi-fi. Percebidas, tornam-se rapidamente reivindicadas, reclamadas. São as "muletas" para manter o estado de entropia de uma massa que se deixa levar homogênea e compactamente.

Os sons que trazem consigo em seus aparelhos abafam os sons da alma.
Matam a última possibilidade daqueles bate-papos informais e camaradas. A conversa é sepultada ao som de teclas, músicas, vídeos e não há ninguém que note. Sem cerimônia, sem despedidas, sem sentimentos... totalmente perdida!

Gosto do curta metragem "Vida Curvada”, onde o uso excessivo de smartphones é satirizado através dos perigos que seus usuários passam ao não descolar os olhos desta minúscula tela brilhante. Espero que sirva à reflexão:





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